“No eldorado do Pará
Nome índio carajás,
o massacre aconteceu
Nesta terra de chacinas
essas balas assassinas
todos sabem de onde vêm...”
Nome índio carajás,
o massacre aconteceu
Nesta terra de chacinas
essas balas assassinas
todos sabem de onde vêm...”
Procissão dos Retirantes – Pedro Munhoz
Em um dia bem comum como hoje, um 17
de Abril de 1996, cerca de 2.500 sem-terra estavam no sétimo dia de uma marcha
que deveria ir até a capital do Pará, Belém; seguiam em protesto contra a
lentidão da desapropriação de uma área que ocupavam na Fazenda Macaxeira, na
cidade de Curionópolis, sul do estado. Mas foi nesse mesmo dia, no Eldorado do
Pará, que 21 lutadores do povo, foram assassinados pela polícia paraense
simplesmente por quererem um mísero pedaço de terra pra plantar o que
comer.
De
um lado, sem-terra armados com suas bandeiras, foices, paus e pedras, do outro,
155 homens da polícia militar com suas amargas armas de fogo prontas e
apontadas para o povo. Foi nesse cenário que o massacre foi feito. Hoje no
lugar da fazenda Macaxeira, propriedade que motivou o maior massacre na
história recente da luta por terra, está o assentamento 17 de Abril, depois de
muita resistência e luta. Mas, mesmo com a terra para a agricultura familiar,
as famílias que moram no assentamento nunca receberam auxilio ou fomento do
governo para torná-lo um assentamento produtivo. Não houve sequer uma conversa
com cooperativas locais, e as próprias
famílias tinham que negociar com os compradores, gerando, assim, uma disputa de
preços interna. Além disso, as famílias demoraram anos para receber as
indenizações pela perda de seus entes e, como se não fosse o bastante, hoje, 19
anos depois desse dia, mesmo com provas concretas de que o massacre foi
encomendado pelos latifundiários da região, e de que grande parte dos tiros foi
dada a queima roupa, impossibilitando a defesa dos sem-terra, os 155 policiais
nunca foram culpabilizados ou punidos pela sua ação, mostrando a omissão do
Estado, que também tem participação nesse assassinato por negar uma reforma
agrária para o povo.
A dor desse dia é rememorada todos
os dias por aqueles que lutam pela terra, e o dia 17 de Abril tornou-se luta
para o MST, por isso não estranhe os pneus queimando, as rodovias fechadas,
pois esse é um recado do Movimento, de que não esqueceremos e jamais
perdoaremos os assassinos dos 21 sem terra do Eldorado.
E
nós do Levante, reconhecemos os rostos que massacraram os companheiros e
companheiras do MST há 19 anos atrás. São os mesmos que derrubam as portas das
casas nas favelas. Mais do que isso: sabemos que as mesmas mãos que dispararam
contra as lutadoras e lutadores sem-terra, são as mesmas que matam a juventude
negra nas nossas periferias. E o Estado que se nega a fazer Reforma Agrária, é
o mesmo que não garante saúde, educação, moradia e assistência, nem no campo,
nem na cidade. É evidente, o Estado prefere punir a cuidar. Nós, juventude do
projeto popular, assim como o Movimento dos Trabalhadores Ruais Sem-terra, não perdoaremos, não esqueceremos e nem
deixaremos que esqueçam a luta de nossos companheiros. Nesse dia mundial de
luta pela terra, afirmamos que cada um que tombou em nome de nosso projeto de
vida agora vive em nossa luta.
Ana Luz Lima
Levante Popular da Juventude RN
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