sexta-feira, 17 de abril de 2015

LEVANTE PELA MEMÓRIA DE ELDORADO DOS CARAJÁS


“No eldorado do Pará
Nome índio carajás,
o massacre aconteceu
Nesta terra de chacinas
essas balas assassinas
todos sabem de onde vêm...”
Procissão dos Retirantes – Pedro Munhoz


            Em um dia bem comum como hoje, um 17 de Abril de 1996, cerca de 2.500 sem-terra estavam no sétimo dia de uma marcha que deveria ir até a capital do Pará, Belém; seguiam em protesto contra a lentidão da desapropriação de uma área que ocupavam na Fazenda Macaxeira, na cidade de Curionópolis, sul do estado. Mas foi nesse mesmo dia, no Eldorado do Pará, que 21 lutadores do povo, foram assassinados pela polícia paraense simplesmente por quererem um mísero pedaço de terra pra plantar o que comer. 

            De um lado, sem-terra armados com suas bandeiras, foices, paus e pedras, do outro, 155 homens da polícia militar com suas amargas armas de fogo prontas e apontadas para o povo. Foi nesse cenário que o massacre foi feito. Hoje no lugar da fazenda Macaxeira, propriedade que motivou o maior massacre na história recente da luta por terra, está o assentamento 17 de Abril, depois de muita resistência e luta. Mas, mesmo com a terra para a agricultura familiar, as famílias que moram no assentamento nunca receberam auxilio ou fomento do governo para torná-lo um assentamento produtivo. Não houve sequer uma conversa com  cooperativas locais, e as próprias famílias tinham que negociar com os compradores, gerando, assim, uma disputa de preços interna. Além disso, as famílias demoraram anos para receber as indenizações pela perda de seus entes e, como se não fosse o bastante, hoje, 19 anos depois desse dia, mesmo com provas concretas de que o massacre foi encomendado pelos latifundiários da região, e de que grande parte dos tiros foi dada a queima roupa, impossibilitando a defesa dos sem-terra, os 155 policiais nunca foram culpabilizados ou punidos pela sua ação, mostrando a omissão do Estado, que também tem participação nesse assassinato por negar uma reforma agrária para o povo.

            A dor desse dia é rememorada todos os dias por aqueles que lutam pela terra, e o dia 17 de Abril tornou-se luta para o MST, por isso não estranhe os pneus queimando, as rodovias fechadas, pois esse é um recado do Movimento, de que não esqueceremos e jamais perdoaremos os assassinos dos 21 sem terra do Eldorado.


            E nós do Levante, reconhecemos os rostos que massacraram os companheiros e companheiras do MST há 19 anos atrás. São os mesmos que derrubam as portas das casas nas favelas. Mais do que isso: sabemos que as mesmas mãos que dispararam contra as lutadoras e lutadores sem-terra, são as mesmas que matam a juventude negra nas nossas periferias. E o Estado que se nega a fazer Reforma Agrária, é o mesmo que não garante saúde, educação, moradia e assistência, nem no campo, nem na cidade. É evidente, o Estado prefere punir a cuidar. Nós, juventude do projeto popular, assim como o Movimento dos Trabalhadores Ruais Sem-terra,  não perdoaremos, não esqueceremos e nem deixaremos que esqueçam a luta de nossos companheiros. Nesse dia mundial de luta pela terra, afirmamos que cada um que tombou em nome de nosso projeto de vida agora vive em nossa luta. 

Ana Luz Lima 
Levante Popular da Juventude RN

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