segunda-feira, 16 de setembro de 2013

A perversidade da democracia racial


Pare e olhe para a base
Fundamentos fundadores, alicerces criadores da história do Brasil.

Nós somos um cadinho de raças? Nós somos uma democracia racial?
Como pode a “democracia racial” aparecer em um país que não tem tradição de democracia política?


Há discursos que se apresentam propositalmente com espaços em branco, com lacunas, que são emitidos por sujeitos inseridos em um lugar definido no modo de produção, partem, portanto do social e político (em um sentido de relação entre sujeitos) para fala sobre o social e a política, mas que negam seu ponto de partida: as relações sociais. Esses discursos se originam da projeção do real na consciência de uma classe, e por isso representam o modo como essa classe enxerga o mundo que vive e as relações entre o homem/mulher-natureza e entre o homem/mulher-homem/mulher.
Esse discurso que não se reconhece objeto de trabalho de um sujeito costuma ser uma representação invertida da realidade, a aparência que se apresenta como essência, e a causa que se mostra como efeito, o cindido que se revela coeso. Se apresentando como discurso sobre o social e sobre o político sem partir desses campos, ele pode aparecer como universal, mas não passa de uma abstração por não considerar a sua origem concreta.
É ele que justifica a dominação de parcelas sobre a totalidade, ele quem dá um papel ativo na história daquilo que é eminentemente passivo, é ele quem silencia povos, raças, e classes, ele quem justifica uma ordem de exploração. A aprovação das cotas raciais para o ensino superior brasileiro trouxe à tona a discussão sobre a existência ou não de raças, e de um fantasma que ronda as periferias e centros de nossa sociedade: o racismo.
Claro que a América Latina tem uma posição peculiar em toda essa discussão, aqui foi o solo em que estiveram presentes povos das mais distintas regiões do mundo. Exatamente por isso se disseminou o pacífico discurso do encontro de mundos, da miscigenação, e é exatamente o Brasil quem mais assume essa “identidade” de povo misturado, da mais profunda harmonia entre as raças. Mas nesse momento é preciso abandonar as certezas, a superficialidade das aparências e do senso-comum, para descobrir a origem do discurso da democracia racial.
Partimos aqui de um pressuposto: a existência de raças. Por mais que pesquisas tenham avançado no sentido de reconhecer que as diferenças entre um negro, um branco e um índio, não ultrapassam alguns poucos fenótipos (em um referencial biológico), e que no geral as capacidades entre todos eles são as mesmas, o que nos interessa aqui não é a biologia, a matemática ou a física, mas as manifestações das relações humanas, sociais, e ao longo da história da humanidade se produziu diferenças raciais e étnicas, seja no que tange às manifestações culturais ou do papel de cada uma na sociedade.
Mas se ainda houver persistência quanto à inexistência de raça, respondamos algumas perguntas: Quantos negrxs e índixs ocupam cargos no judiciário? Quantxs sentam ao lado de branxs nos assentos das universidades? Qual a cor dos sujeitos que são obrigados a usar o elevador de serviço? Quantxs negrxs e índixs ocupam cargos no legislativo? E no executivo? Qual a cor da pele dxs moradorxs das favelas? A resposta a cada questionamento desses evidencia que a crença na existência de raças nos trouxe consequências pesadíssimas que não se desfaz pela descoberta científica de sua inexistência, ou pela palavra sem ação.
A ideia de encontro entre culturas de miscigenação que se espalhou fortemente pela América Latina oculta o ponto crucial na discussão, que na sua história houve na realidade um choque forçado entre culturas, e a dominação de um projeto de sociedade, de uma concepção de mundo sobre outros. Na realidade, a fundação do Brasil e dos demais países latino-americanos na história do centro tem como base o genocídio e a transformação de indivíduos em mercadoria, não em um ponto de vista meramente filosófico, mas material, o ouro e a prata que entupiram os cofres dos bancos europeus, o tecido que vestiu a nobreza francesa e o operariado alemão teve sangue, de fato, negro e indígena, foi no sacrifício de povos inteiros que se ergueu o império europeu.
A história da América Latina desde 1492 é assombrada pelo mito da superioridade de uma raça sobre outra, e pela dominação material e espiritual de vários povos de origem distinta. Seria meramente coincidência que em nossas escolas se ensina o idioma do conquistador? Será que nesse encontro harmônico entre raças se decidiu pacificamente o idioma oficial dessa terra? Será que todos, pacificamente, decidiram que os filhos dos europeus passariam a ocupar os cargos de poder em cada país latino-americano? Será que foi na comunidade argumentativa, entre iguais, em uma verdadeira democracia racial que se definiu que negrxs e indígenxas serviriam a casa dxs brancxs?
E assim revela-se o caráter ideológico da “democracia racial” da miscigenação harmônica no solo latino-americano, que oculta uma realidade social de fato dividida racialmente. A emancipação humana em solo brasileiro necessita que seja feita um recorte racial, exige que se interrompa o genocídio histórico da juventude preta que nos perguntemos o motivo real da maioria da população carcerária ter pele escura enquanto a universitária tem pele clara, que se reinicie a redistribuição de terra para o povo indígena, e que superemos o mito da construção pacífica da identidade latino-americana miscigenada, e que fique a mostra o projeto de dominação de um povo sobre outro que imperou em nosso solo.

Povo preto unido é povo preto forte
quem não teme a luta,
quem não teme a morte!

domingo, 15 de setembro de 2013

RANCORES IDEOLÓGICOS: Reflexões sobre o movimento do “menos médico”

Quero mais médico pro povo brasileiro
E mais saúde pra quem não tem dinheiro
Pode ser daqui ou lá dou do estrangeiro
De Cuba, Espanha ou Portugal,
O que eu não quero é ficar passando mal

Muitas das manifestações das relações sociais se mostram para nós sem realmente permitir a exposição de sua essência pra os homens e as mulheres que a enxergam ou sentem por motivos diversos. Assim, muitas das relações sociais aparecem para os homens e mulheres de maneira invertida e escondem conscientemente e com uma intencionalidade clara as razões de sua existência suas origens. É comum que os próprios sujeitos dessas relações sociais, que acabam se posicionando em um polo passivo delas, não tenham ciência da origem daquela prática. Esses discursos que invertem a realidade e que se constituem por lacunas, espaços em branco, não são de forma alguma fruto de uma conspiração maligna dos sujeitos reacionários, mas surge da própria condição de classe daqueles que dominam, nasce da projeção ideal da realidade na mente desses sujeitos.
A campanha asquerosa encampada por setores dos médicos brasileiros contra o programa governamental “Mais médico” não se isola dessa lógica. As reivindicações da categoria médica mostra sua aparência como defensora de direitos de trabalhadores, como aglutinadoras das vontades da população brasileira, mas, antes de assimilarmos esse discurso, é preciso que identifiquemos bem os sujeitos que o emitem, e o que de fato ele quer dizer.
Alguns acontecimentos recentes nos ajudam para identificar bem o real caráter desse movimento de batas: um rancor classista e essencialmente ideológico. Nada é mais sintomático dessa raiva classista de uma elite que vê seus benefícios sendo reduzidos do que aquela imagem lamentável de um negro cubano, ao chegar ao aeroporto de Fortaleza, sendo recebido por um grupo de brancxs, bem arrumadxs, e que se imaginavam imunes graças às suas batas bem cuidadas, vomitando ódio junto aos seus gritos: “escravos”. Nada deixa mais claro o caráter classista e racista desse movimento do que a declaração “inocente” da jornalista potiguar de que os médicos cubanos que chegavam ao Brasil pareciam empregadas domésticas.
E toda a maquiagem cai por terra também quando xs senhorxs feudais dos bisturis levantam seus discursos raivosos unicamente a vinda de médicos cubanos. Ora, não é um programa governamental que vai levar médicos brasileiros, e de diversas outras nacionalidades, inclusive cubana, para as cidades em que faltam? Então como justifica esse ódio unicamente a vinda dos cubanos? Por que não dos portugueses? Dos espanhóis? Seriam sentimentos coloniais? Desinformação?
Está muito mais que claro que setores, entre eles esse movimento contra majoritário do menos médico, está revivendo lembranças da guerra fria, ressuscitando o medo vermelho a qualquer custo (o que sabemos bem que culminou no golpe de 64), e na essência desses discursos raivosos também se encontra uma tentativa de desmoralizar a revolução cubana e incitar na população brasileiro o medo “dos guerrilheiros de bisturi”, o receio em romper com um modelo de promoção da saúde baseada em lucro, em uso de medicamentos caríssimos, tendo como centro não o homem e a mulher doente necessitando do direito à saúde, mas a mercadoria saúde. Mas a aparência é outra.
A categoria médica, que fez uma opção de classe evidente levantando sua bandeira do menos médico, se mantém na trincheira oposta ao do povo brasileiro, emite uma reivindicação evidentemente anti-popular: menos médicos nas cidades do interior, mais espaço, mercado e privilégios aos senhorxs de branco. No entanto, seu discurso se transveste, chegando ao ponto do presidente do SINMED do Estado do RN se mostrar como paladino da saúde pública, defensor dxs trabalhadorxs, parecendo preocupado com as condições de trabalhos dxs médicxs cubanxs, querendo ele que nos esqueçamos de que no passado recente, ele esteve engrossando as fileiras dos apoiadores de uma candidata do DEM, aquela mesma que hoje ele faz oposição (real?), o partido herdeiro do autoritarismo de 64 e que historicamente se colocou em lado oposto ao dxs trabalhadorxs e que impede os avanços da luta pela erradicação do trabalho escravo no Brasil.
Que a universidade elitista, baseada na meritocracia tenha produzido médicos tão distantes do povo, isso não me surpreende. Mas como organizações de esquerda pode ousar também engrossar essa campanha odiosa? Como se colocar contra um programa que pode diminuir a morte do povo nas cidades mais longínquas? Como pode ser desmobilizador ter médicos para te atender? Só mesmo um grande distanciamento do povo e dos movimentos populares para justificar uma postura dessas, na melhor das hipóteses, ou uma indiscreta e vergonhosa postura de se colocar contra luta do povo.
Que esse programa não é a solução de todos os nossos problemas, isso é inegável, ainda temos muito no que avançar, ainda temos muitas opressões a combater, tanto no que se refere à concretização do Direito a saúde, como em um plano muito mais amplo. Por isso que o povo tem reivindicado o seu espaço nas ruas, não para desestabilizar, ainda, qualquer ordem, mas aprofundar as reformas que nos foi prometida em 2002, e para construir o poder popular.
                   (foto: Recepção aos médicos do programa "Mais Médicos". Natal,15 de setembro de 2013)

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Parada Gay


Aconteceu nesta segunda,09 de setembro,a segunda reunião da 1° Parada gay de Felipe Camarão articulado entre o GGFC - Grupo Gay de Felipe Camarão e Levante Popular da Juventude. As reuniões estarão acontecendo todas as segundas às 19:30 no Conselho Comunitário de Felipe Camarão I.
Vamos colorir um Projeto Popular para o Brasil no combate a homofobia!








sábado, 7 de setembro de 2013

19º Grito dos Excluídos em Natal



   Hoje em Natal, fomos às ruas organizados no 19° Grito dos Excluídos com o lema: “Juventude que ousa lutar, constrói o projeto popular”, junto às centrais sindicais ,movimentos populares de juventude e de moradia, partidos de esquerda...
   Buscamos neste dia visibilizar e problematizar as contradições da sociedade brasileira, perguntando ao povo: “Que independência é essa que vivemos?”
   Nas ruas, mostramos as pautas dxs lutadorxs, buscamos a reforma política, a democratização da comunicação e contra o extermínio da juventude, a favor do programa “Mais Médicos”, contra o projeto de terceirização.
   Gritamos NÃO à morte de jovens nas ruas, nas aldeias,nas periferias.
   Hoje lembramos as mulheres estupradas e criminalizadas, as pessoas oprimidas por apenas amar, somos contra a homofobia. Queremos dizer que nos organizamos para lutar por uma sociedade justa e igualitária, construindo um projeto popular para o Brasil junto com o povo.


JUVENTUDE QUE OUSA LUTAR,CONSTRÓI O PODER POPULAR!