sexta-feira, 23 de outubro de 2015

São tempos difíceis para os sonhadores, mas nada é impossível



Desde que assisti pela primeira vez O Fabuloso destino de Amelie Poulain soube que nenhum outro filme conseguiria captar a essência do que sou por dentro e do que se passa na minha cabeça. Mas nesses quase sete anos desde a primeira vez que assisti a obra, nenhuma cena faz mais sentido do que a que a personagem Eva, interpretada por Claude Perron, solta a frase “os tempos são difíceis para os sonhadores”. 
Como uma boa adolescente era indignada com tudo que havia de errado nomundo, depois de amadurecer percebi que minha indignação não era vazia, ela tinha um gênero e uma classe. Depois de muito matutar percebi que o lugar da minha raiva pelos males do mundo era a rua, me organizei no Levante Popular da Juventude e na rua me joguei e desde então não saí mais. Já são quase quatro anos e sinto que o mundo está se desfazendo sob os meus pés, de um lado, redução da maioridade penal, do outro tem a aprovação do “estatuto da família”, na minha frente o PL 4330 da terceirização, atrás de mim uma contrarreforma absurda, embaixo de mim criminalização dos movimentos sociais, e agora, acima da minha cabeça a aprovação do PL 5069 que torna crime ajudar uma mulher a abortar (não estamos falando nem da legalização do aborto, mas de ajudar inclusive mulheres que foram vitimas de estupros a conhecer seus direitos). Sinto que morro um pouco mais cada dia, e sei que meus assassinos tem nome e endereço. Eles se organizam nas bancadas da bala, do boi e da bíblia, e esse grupo tem como mestre o pior câncer que o país já teve: Eduardo Cunha! 
Não é possível que um ser (não humano) tenha a capacidade de retroceder tanto os direitos da classe trabalhadora, que tenha tanto dinheiro desviado na Suíça, que atinja mulheres, lésbicas, negras e negros, gays, transexuais, travestis, bissexuais, juventude e saia impune, que continue fazendo a linha bom moço. Não é possível aceitar calada e de cabeça baixa enquanto uma só pessoa destrua tudo que tantas outras lutaram para conquistar! 
A realidade se faz dura, sangrenta e cruel. “Os tempos são difíceis para os sonhadores”, mas nós, somos justamente as pessoas que ainda ousam sonhar. Não devemos parar de sonhar, pois se colocar como sonhadora nessa conjuntura é se colocar a serviço da luta, pois de que servem os sonhos se não para fazer com que nossas ações aconteçam e nos façam alcança-los? De nada servem os sonhos na cabeça, precisamos que eles deixem de serem sonhos e tornem-se vida. Eu sonho com uma nova sociedade, feita por novas pessoas, por mulheres e homens e nenhum Cunha. Meu sonho é meu projeto politico de vida, crer em dias melhores me faz lutar.

E você, vem sonhar comigo?

Ana Lucia Lima - Levante Popular da Juventude RN

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Sobre o Lançamento do relatório final da Comissão da Verdade na UFRN


            Em 2012, nós do Levante Popular da Juventude executamos uma proposta bastante ousada: realizamos ações simultâneas em várias capitais do país de escrachos aos torturadores que atuaram na ditadura militar e continuam impunes. Essa ação foi responsável pela nacionalização do movimento, bem como cumpriu importante papel de impulsionar a Comissão Nacional da Verdade. Carregamos desde o nascimento o orgulho de continuar a luta de muitos que tombaram, inclusive jovens,  e levantando a bandeira da Memória, Verdade e Justiça.

            Reconhecemos a grande importância dos trabalhos da CNV no resgate de um dos períodos mais obscuros da história nacional, bem como das comissões da verdade da OAB-RN e da UFRN. Em especial esta, que hoje faz o lançamento das conclusões de seus trabalhos por meio da publicação do seu relatório final. Por isso, parabenizamos a nossa comissão pela dedicação no resgate e esclarecimento de passagens da história local como a morte de dois estudantes da casa, José Silton Pinheiro (a quem homenageamos nomeando o nosso DCE), 23 anos, e Emmanuel Bezerra dos Santos, 26 anos, além do professor Luiz Ignácio Maranhão, afinal "um povo sem memória, é um povo sem história" (Helena Pignatari).

            Neste dia 14 de outubro de 2015, nós estudantes e toda a comunidade acadêmica desta universidade viemos aqui propagar que "Ditadura nunca mais!", tal qual fica gravado hoje em nossa própria reitoria. Ter esses dizeres aqui afixados, mais que simbólico, se torna um necessário ato de resistência. Necessário em face das diversas manifestações facistas que frequentemente ainda presenciamos nesse país, por pessoas que conclamam nova intervenção militar e saúdam, pedindo o retorno de, uma passagem devastadora da história brasileira.

            Infelizmente ainda hoje sentimos as heranças da ditadura, seja na forma truculenta com que ocorre a abordagens polícias, principalmente no campo e nas periferias de nossas cidades - as quais deixavam desaparecidos políticos antes, mas agora deixa vazio nos lares de milhares de jovens negros e pobres todos os dias; seja nas posturas autoritárias que temos observado em nossa câmara federal, autoritária em colocar para reapreciação votação de proposta de redução já reprovada, contrariando próprio regimento da câmara. Também em trazer para ordem do dia projetos que relembram os atos institucionais da ditadura militar, como o projeto anti-terrorista, o qual acaba por deixar a crivo de delegados e promotores determinar a ilegalidade de condutas como manifestações, correndo o risco de ter movimentos sociais enquadrados nessa lei.

            Além disso, está completando um ano que um estudante da UFRN foi brutalmente agredido por seguranças da universidade. Não bastou videos, fotos, testemunhas, mas na pauta do CONSAD consta a “suposta agressão sofrida por estudante”. É de se lamentar que a mesma UFRN em que se publica como houve perseguição ideológica a estudantes na ditadura, a que tinha um órgão investigatório - do qual nos envergonhamos(!) -, como a ASI, que fazia o patrulhamento das atividades da comunidade acadêmica, professores, servidores e estudantes; é a instituição que está perseguindo e coagindo jovens militantes da universidade após a ocupação da reitoria em 2014 sobre aqueles casos de violência interna. A que instaura sindicância com posturas bastante autoritárias contra seus próprios estudantes, acusando-os pelo "crime" de lutar por uma universidade mais democrática, com menos marcas de uma ditadura que, dolorosamente, ainda perdura até os dias atuais! Uma violência institucional que tolhe a liberdade de uma juventude que só agora consegue se organizar, ávida por transformações que tornem verdadeira a nossa tão suada democracia.

Mas não nos calaremos. Diante de toda opressão institucionalizada, de toda pressão para que entreguemos nossos companheiros de luta, de toda herança dolorosa, nós não esqueceremos e continuaremos lutando para que não se repita, "para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!"

LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE - RN



quinta-feira, 3 de setembro de 2015

NOTA EM APOIO A NOVA PRESIDÊNCIA DA CUT



O Levante popular da juventude participou da abertura do 12º CECUT (Congresso Estadual da Central Única dos trabalhadores) do estado do RN no dia 02 de setembro em Nísia Floresta. Esse foi um importante momento de estreitamento dos laços com a organização sindical, pois é com a experiência de organização e luta da companheirada sindicalista que a juventude tece o exemplo de continuar no trabalho de base, principalmente quando o jovem começa a se inserir no mundo do trabalho. Não podemos esquecer que a luta continua. 
Nós do Levante, temos a plena convicção que a nova direção eleita, tendo Eliane Bandeira como presidenta, garantirá que a CUT continue em luta nas ruas, onde historicamente conquistou os direitos de nossa classe, a trabalhadora. Reafirmamos a importância do desafio que foi realizar o primeiro congresso com paridade de gênero, pois são as mulheres as mais exploradas pelo sistema capitalista e patriarcal, e são elas a maioria da população brasileira, queremos um sindicato cada vez mais pintado do feminismo.
Sem dúvidas a nova gestão também será marcada por uma aproximação com a base e um olhar mais cuidadoso para o fortalecimento dos movimentos sociais do estado do Rio Grande do Norte.
O Levante acredita que só a luta muda a vida do povo brasileiro. E por isso, em unidade com a atual gestão da maior Central sindical do estado, vamos apontar a saída para a crise vigente no país e gritar em alto e bom som: que os ricos paguem a conta.
Nesse sentido, parabenizamos a direção eleita e, desde já, nos colocamos em luta ao lado da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Norte.


Ousar lutar, organizando a juventude pro Projeto Popular!



segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Luta pelo transporte em Touros mobiliza estudantes



Em apoio ao Movimento: Educação do LUTO à LUTA, organizado pelos Estudantes Universitáriosde Touros/RN, o Levante Popular da Juventude esteve presente em um debate sobre o movimento estudantil, com o objetivo de contribuir na luta pelo transporte gratuito aos estudantes da cidade. 

A situação da educação do munícipio é crítica, atinge tanto os estudantes das redes Estaduais e Municipais quanto do Ensino Superior. Escolas com as estruturas defasadas, que prejudicam o desempenho dos alunos e impossibilita que os professores e professoras desempenhem o seu trabalho com excelência. Há algumas semanas, a Prefeitura avisou que o transporte que faz a locomoção dos estudantes de Touros para as instituições de ensino da capital Natal, seria cortado por falta de recursos. A partir disso, surgiu a necessidade de unir forças e exigir do governo municipal uma solução para o problema que compromete o ano letivo dos alunos, a qual a grande maioria são de instituições de ensino superir particulares.

Os estudantes estão se reunido em assembleias e reuniões, planejando e discutido os rumos do movimento para que o problema seja resolvido e os alunos do município não sejam ainda mais prejudicados. No dia 21 de agosto em uma assembleia do movimento, foram feitos os repasses de uma reunião entre a comissão que representa o movimento e o Prefeito de Touros Ney Leite do PSD. Algumas falas do prefeito geraram um desconforto e revolta entre os estudantes, foram elas: "Vocês vão ter que dá um jeito" e que "Os universitários não tem direito a nada, pois a Lei estava do lado dele". Atitude inaceitável por parte de um representante que foi eleito pelo povo e, que se diz representar os interesses desse povo que o elegeu, visto que o governo sendo ele, Federal, Estadual ou Municipal, não pode se ausentar de suas obrigações e jogar a responsabilidade pra quem já faz um tremendo esforço para sair de casa e ainda custear os seus estudos.

Durante a assembleia do movimento uma colega destacou que: “É necessário a união entre os companheiros (as) do movimento, pois a luta pelos nossos direitos requer uma unidade e juntos podemos lutar por eles”

Para isso, iremos fazer formações e mobilizar os estudantes do ensino básico para o ato marcado para o dia 25 de agosto que terá concentração ás 8 horas em frente a Escola Municipal Dr. Flávio Junqueira Aires e sairá com destino a Prefeitura do Município onde, a comissão estará em mais uma reunião com o prefeito.
 


Vamos fortalecer a juventude para lutar contra esses ataques da prefeitura aos direitos do cidadão. O Levante está do lado dos estudantes de Touros, do lado povo e com eles irá lutar.

Transporte público, pelo direito ao estudo!

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Não se estuda de bucho vazio: nem verba pra educação e nem ambulante com promoção


  Com o avanço do conservadorismo no congresso, muitos desafios foram colocados na vida das e dos estudantes, aliada as retiradas de direitos da classe trabalhadora. Nesse cenário de retrocessos promovido pelo congresso nacional, os cortes de verbas para educação trouxe a tona a falta de compromisso com o povo brasileiro por um sistema político que não nos representa.

  Os cortes na educação afetam diretamente a vida da estudantada que mais precisa permanecer na universidade: aquelas e aqueles que tiverem esse espaço negado por tanto tempo. A falta de verba dificulta o acesso a bolsas de ensino, pesquisa e extensão e principalmente as necessidades básicas: alimentação (RU), transporte (circular), moradia (residência e auxilio aluguel), ou seja, retira o direito de permanência estudantil.   

  Não podemos aceitar que a pátria educadora retire os diretos da estudantada. Queremos mais escolas e menos prisão. Queremos entrar na universidade e só sair de lá quando nos formarmos. Queremos nossos direitos por completo: entrar, vivenciar a universidade e nos formar como profissionais e cidadãos críticos. Queremos estudar de bucho cheio.

Estudantes e ambulantes: na luta por permanência!       

  Não bastando às medidas repressivas como novas catracas e mais seguranças no RU, estamos agora enfrentando a expulsão das e dos ambulantes, trabalhadores que ofereciam aos estudantes alimentos mais baratos e que cabiam no nosso bolso. Advertidos pela segurança do campus, foram notificados e avisados dos seus últimos 5 dias de trabalho, pedindo sua desocupação por serem “ilegais”.           

 Então, vamos falar de “ilegalidade”? As cantinas da universidade, pertencentes praticamente a uma mesma família (oligopólio), praticam preços abusivos
e não cumprem com os valores tabelados na licitação em que foram aprovadas, sem ter a fiscalização necessária pela universidade. A expulsão dos ambulantes é para garantir e aumentar o lucro do cartel de cantinas.

  “É muito nítido que essa expulsão não é interessante para mais ninguém se não para os donos de cantinas que sem os ambulantes (e um RU não satisfatório) serão a única alternativa mais "acessível" para os/as estudantes fazerem suas refeições. Essas cantinas vivem hoje a base de um cartel, onde fazem acordos de preços absurdos para que não haja a possibilidade da escolha de um lugar mais barato, essa luta não é só dos trabalhadores e trabalhadoras que não terão mais seu direito de trabalhar, mas também das e dos estudantes que ficaram sobre a mira do esquema das cantinas”, disse Kell Medeiros, trabalhadora ambulante e militante do Levante Popular da Juventude.

Expulsão dos ambulantes + Sucateamento do RU = Reféns das cantinas
  Estudantes, trabalhadoras e trabalhadores querem permanecer na universidade, sem opressões e sem retirada de direitos. Não aceitaremos nenhuma expulsão, seja por repressão ou pelos cortes na educação. Queremos a regulamentação dos ambulantes e a garantia da assistência estudantil. Queremos que a universidade se pinte de povo!
  E para mudar a realidade dentro da universidade também precisamos mudar a sociedade e com esse congresso conservador não dá. Precisamos mudar as regras do jogo, dizendo não para o cartel das cantinas e não para o financiamento privado de campanha. Colocando nas ruas uma bandeira que represente as lutas do povo e que proponha uma mudança concreta: a bandeira da constituinte por uma reforma do sistema político.             

Juventude que ousa lutar: constrói poder popular!

Joseé Lima - Levante Popular da Juventude RN


terça-feira, 14 de julho de 2015

I Seminário Estadual da Frente Territorial Pablo Santos


O Seminário aconteceu entre os dias 10 a 12 de julho em Natal, reunindo os jovens que organizam o Levante nos bairros das periferias no estado do Rio Grande do Norte. Homenageamos o lutador do povo Pablo Santos, morto aos 16 anos, morador da Zona Norte de Natal, que esteve junto ao Levante nos atos contra o aumento da passagem no ano de 2013. 

O objetivo do seminário foi tornar coeso a atuação nos bairros, formar a juventude que nela milita, muni-los de formação para se contrapor ao capitalismo que explora as trabalhadoras e os trabalhadores. Bruna Massud, militante da Marcha Mundial das Mulheres, facilitou o primeiro espaço sobre a formação histórica das periferias. Segundo ela, " a formação é um pilar fundamental para o fortalecimento da militância, e o Levante Popular da Juventude acerta quando investe num espaço onde os jovens tem a oportunidade de entender sobre a própria história. A prática militante não pode está dissociada do estudo."

Para Joanne Rufino, militante da célula Peixe-Boi do bairro Felipe Camarão em Natal,  "o seminário foi muito importante para aprender mais sobre a população das  periferias e também para arrasarmos mais ainda no trabalho de base no nosso bairro."




OUSAR LUTAR, ORGANIZANDO A JUVENTUDE PRO PROJETO POPULAR!

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Eduardo Cunha puxa o tapete e tenta derrubar a juventude


"Na moral, chega de hipocrisia!
 A PM mata preto todo dia. 
Redução só aumenta a tortura! 
A juventude quer viver e tá na rua."


Votação do dia 30 e a não aprovação da emenda aglutinativa.

No dia 30 de junho, após muita discussão e demora, foi colocada em votação uma emenda aglutinativa, ou seja, uma proposta de alteração, ao Projeto de Emenda Constitucional 171. Essa alteração visava a redução da maioridade penal de 18 para os 16 anos, sem abarcar todos os crimes, se resumindo apenas aos crimes hediondos, lesões corporais graves, tráfico e homicídio doloso (com intenção de matar).

Ao ser posta em votação, dos 487 deputados/as presentes, 303 votaram favoráveis a redução e 184 disseram não a retirada de direitos da juventude!

Por que o PEC não foi aprovado no dia 30?

Por se tratar de Projeto de Emenda Constitucional, isto é, alterar a Constituição, o processo de aprovação da proposta é mais rigoroso. O procedimento previsto no texto da nossa Constituição (artigo 60, §2°) diz que para entrar em vigor a Emenda deve ser aprovada por 3/5 dos legisladores, por duas vezes, tanto no Câmara, como no Senado. Como temos 513 deputados no Congresso Nacional, o número mínimo para aprovação da Emenda 171 seria 308, o qual não foi atingido!

Eduardo Cunha não se conformou com a derrota e arquitetou um GOLPE!

No dia seguinte, dia 1° de julho, Cunha (PMDB), Presidente da Câmara dos Deputados, orquestrou uma manobra junto PSC, DEM e PSD, que colocou novamente na ordem do dia a votação da Redução da maioridade Penal. Mesmo sendo contra o regimento da casa, que prevê a impossibilidade de votação de uma proposta já derrotada na sessão, às 00:03 do dia 2 de julho, foi aberta a contagem de votos para aprovação da nova emenda aglutinativa ao PEC 171. Acompanhada de um sorriso do maestro Cunha, a vitória da bancada BBB (Bala, Boi e Bíblia) foi concretizada com 325 votos a favor da Redução!!!

Não se contendo em burlar o regimento do Congresso Nacional, Cunha ainda fere diretamente a Constituição e suas cláusulas pétreas (artigo 60, §4°, IV)! A liberdade da juventude, o direito de viver é uma garantida individual, tornando inconstitucional qualquer proposta que vise reduzir esses direito. 

Qual a diferença entre a proposta aprovada no dia 1° e a rejeitada no dia 30?

A diferença básica entre as duas propostas reside exatamente na retirada do tráfico de drogas e do roubo qualificado da emenda aglutinativa ao PEC 171, cuja a aprovação foi viabilizada no golpe promovido pela bancada conservadora do Congresso.

Isso é definitivo? Ainda há tempo pra lutar!

Não, a redução ainda não está em vigor! Como já dito anteriormente, o processo de mudança da Constituição é bem mais rigoroso. Exige duas votações, na Câmara e no Senado, aprovadas por 3/5 dos/as legisladores/as.  Além disso, para que seja votada a segunda vez pela Câmara dos Deputados, exige o prazo mínimo de 5 sessões.

Vamos, juventude! Vamos lutar pelo Direito de viver! Ocupemos as ruas contra a redução da maioridade penal, mas, além disso, exigindo a aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), bem como a efetivação de políticas públicas para a juventude.




sábado, 27 de junho de 2015

Na escola: escrevo com giz diversidade, com o apagador tiram minha liberdade.

“Para mim o utópico não é o irrealizável; a utopia não 
é o idealismo, é a dialetização dos atos de denunciar 
e anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e 
de anunciar a estrutura humanizante. Por esta razão a utopia 
é também um compromisso histórico”. 
Paulo Freire.

  
  A escola é o primeiro espaço que encontramos quando saímos de casa e do meio familiar, conhecendo novas pessoas e novas relações, um espaço que respira liberdade, ao menos deveria ser.
Independente de serem públicas ou particulares, ambas são construídas por um processo coletivo de educação, sendo assim lugares de pluralidade e diferenças que produzem coletivamente o conhecimento.

  É na escola que a diversidade se encontra, mesmo estando todas e todos com a mesma farda, uniformizados e em fileiras, é nesse momento que percebemos melhor as características de cada um: cabelo, cor, jeito de falar e agir, suas expressões de gênero e sexualidade.

  Percebemos as diferenças ao mesmo tempo em que as normas sociais tentam torna-los iguais, naturalizando os gêneros e as orientações sexuais, a estética e a beleza, apontando o caminho certo para os padrões sociais, estruturando assim a opressão.  

  Partindo desse espaço cheio de diferenças e opressões se faz necessário que as políticas educacionais que compõem os planos de educação, como o municipal que está em construção neste momento, esteja combinado com a realidade da escola e não com os interesses fundamentalistas do congresso.

  A escola é um espaço fundamental no processo de socialização e de construção de vínculos, que está sendo colocada em risco com o avanço do conservadorismo no congresso, impedindo que temas centrais como gênero e diversidade não sejam abordados no cotidiano escolar. Esse retrocesso é reflexo do atual sistema político que não representa os interesses do povo e nem pensa numa educação popular, que combata as opressões, contribuindo para a formação da juventude brasileira. Somente com uma reforma política através de uma constituinte: conseguiremos avançar na educação.

  Não é à toa que o congresso, o mais conservador desde a ditadura militar, esteja se esforçando para impedir gênero e diversidade na escola, pois querem continuar no comando, mantendo o patriarcado e a heteronormatividade como algo naturalizado nas salas de aulas.

  A falta de representatividade da negritude, de mulheres e LGBT’s no sistema político é um exemplo concreto dessa manutenção do poder, e a escola é uma das instituições centrais nesse processo.

  Por isso, precisamos continuar ocupando as escolas e organizando os grêmios, para que a estudantada se levante por uma outra educação. Somente com organização, formação e luta: construiremos uma escola feminista, antirracista, colorida, solidária e popular.

O que acontece nas salas e pátios das escolas?

  Não colocar gênero e diversidade nos planos de educação é contribuir com o processo de invisibilização dos LGBT’s na escola. A escola não pode ser incapaz de debater e educar para o combate aos preconceitos e violências, pelo contrário, precisa se reconhecer como um terreno fértil de reprodução das opressões, compreendendo a sociedade em que vivemos e apontando medidas que desconstruam esse cenário. Não estamos falando somente de currículos pedagógicos, mas da vida da juventude! Não podemos aceitar que a escola seja a guardiã da heteronormatividade e nem que o preconceito faça parte do seu cotidiano.


  É nesse espaço que descobrimos que “gay, veado, sapatão, bicha, machuda, traveco” são xingamentos e que ser diferente dos outros é algo ruim, muito ruim mesmo, pois isso nos é dito diariamente, pelas palavras e pelas porradas. É na escola que aprendemos que usar o banheiro no intervalo é uma tortura, que nosso nome social é algo indiscutível para a maioria dos professores, que existem esportes ditos de homens e de mulheres.

  O bullying torna-se terrorismo na vida da estudantada e ir para a escola é um desafio diário, é um sofrimento que silencia e afasta o estudante da educação. É comum ouvir falar da “evasão” de travestis e transexuais nas escolas, como se fosse algo natural ou inevitável, mas na verdade o que ocorre é a “expulsão” delas e deles pela falta de uma política de combate ao preconceito, inclusão e permanência dos LGBTs nas escolas.

  A evasão de um estudante que precisa deixar a escola para trabalhar e ajudar em casa não é a mesmo de um estudante que deixa a escola por não conseguir estar na sala de aula sofrendo LGBTfobia.

  É partindo dessa realidade que queremos uma educação discutindo gênero e diversidade na escola, por entender que qualquer jovem tem o direito de estudar e ser quem é. Precisamos de uma escola que não reproduza o preconceito e a violência, mas o respeito e a solidariedade. Queremos que o Brasil deixe de ser um dos países que mais mata LGBT’s no mundo. Queremos outra sociedade livre das opressões e dos valores do capital, por isso ousamos lutar por outra educação: construindo o poder popular rumo à revolução.


José Lima - Levante Popular da Juventude RN

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Um corpo solitário, duas vozes e muita confusão


Noite de sábado. Olho pela Janela. Um corpo jaz, ainda solitário, na rua ao lado. Ouço, já, mas ainda ao longe, barulhos que anunciam uma sirene. Polícia? Ambulância? Estou confusa. "Natal está mesmo muito violenta". É o que dizem os jornais. É o que leio nas mídias sociais. Mas de que violência estamos falando? E quais são as vítimas merecedoras de nossos gritos?
No último sábado, um rapaz caiu de uma moto, já morto, ao lado do prédio onde moro. No mesmo instante, vozes já se levantam nas redes sociais. "Natal está mesmo muito violenta!", ou "até em um bairro que era tão tranquilo, agora há até assassinatos!". Solidariedade é o que não falta com a vítima. Afinal, a nossa cidade tem assistido nos noticiários e sentido nas vivências cotidianas, a inúmeros episódios de violência, seja ela gratuita ou não. Muitas pessoas demonstram sua insatisfação com a falta de segurança na cidade e desgastam suas digitais em intermináveis manifestações virtuais.
O corpo solitário que, até então, não tinha nome, nem cor, nem idade, já recebia vários votos de solidariedade. Sabia-se do rapaz, até o momento, apenas o local de sua execução: um bairro de classe média alta de Natal, onde moravam “cidadãos e cidadãs de bem”, aqueles e aquelas que não merecem morrer. Tinha, o corpo solitário, uma classe, ou lhe tinham determinado uma. Logo, já apareciam na minha timeline toda uma vida inventada: o motivo de estar morto, a idade e até uma família que lamentava sua perda. De repente, o corpo ganhou uma história. Não era apenas mais um corpo; não era mais solitário; tinha as vozes de toda a cidade gritando por ele, se solidarizando com a tragédia da sua morte, clamando por justiça e apelando por uma punição severa ao assassino.
Qual surpresa não foi das minhas amigas, amigos e familiares, descobrir que estavam enganadas. O corpo solitário não era “cidadão de bem”. Ali, naquele bairro que tem seu lugar ao sol, há uma comunidade de, mais ou menos, 15 famílias, as quais só conhecem a sombra que os prédios a sua volta podem dar. E o rapaz morava ali, do lado do morro, mas abaixo dele, naquela pequena área onde os muros dos prédios bonitos, grudados aos muros das feias casas, cercam a liberdade e blindam do Poder Público. Surge uma nova voz, dessa vez, menos macia, mais incisiva, menos compreensiva: o meliante – não mais o menino injustiçado, digno de compaixão - tinha sido executado por um policial, enquanto fugia, numa moto, da tentativa frustrada de roubá-lo. Confusão. Aqueles e aquelas que se lamentavam horas antes por mais uma violência na cidade, se calam, pensam e se voltam a falar. Mas, dessa vez, falam de um corpo. Um corpo solitário, que não tem história, não tinha uma vida e, por isso, nasceu merecendo a morte. As vozes continuam, mas, ao invés de se levantarem contra o possível assassino, chamando-o de delinquente e pedindo a sua prisão, se erguem contra a vítima, acusando aquele que, poucas horas antes, era alvo da empatia de todos.
Pobres vozes confusas; pobres vozes que, ao falarem tanto, não falam nada. Ao falarem de segurança pública a confundem com segurança repressiva policial. Ao defenderem o fim da violência, clamam por mais violência. Julgam quem deve viver e quem deve morrer, usando critérios diferentes para uns e para outros, e falam de justiça. Dizem que vivem com medo, mas, ao mesmo tempo, o disseminam, o alimentam. Confundem circunstância com constância. Acham que se cura a pobreza matando os pobres, e o crime, exterminando os criminosos. É tanta incoerência. Não sou insensível aos amigos e amigas vítimas da violência que ronda por aqui. Também quero paz, quero andar na rua sem medo. Mas, me desculpem, não me peçam para defender a solução, mas também a paliação; a vida, mas também defender a morte; a paz, mas também a guerra. Não me peçam para ser mais uma voz de ódio, quando, na verdade, clamam por uma voz de amor.

Giovana Galvão - Levante Popular da juventude RN