quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Organizações do bairro de Felipe Camarão se reúnem para planejar novas ações


Organizações do bairro Felipe Camarão, Zona Oeste de Natal, se reúnem nesta quinta-feira, 28 de novembro, para construir as pautas prioritárias de luta da comunidade.
Estavam presentes o Conselho Comunitário, Levante Popular da Juventude, moradores e grupos culturais que debateram as reivindicações que serão levadas para as secretarias da prefeitura. Segundo João Paulo, militante do Levante, "Essa reunião é fundamental pois só com a força da comunidade é que serão alcançadas nossas demandas". 
Foram colocadas como pautas: Iluminação das ruas, buracos dos calçamentos, sinais de trânsito, revitalização da praça Manuel Marinheiro... Foi debatido também a necessidade de construção do Plebiscito Popular para Reforma Política, compreendendo a necessidade de trazer a juventude para as lutas e fortalecimento do poder popular.  
Para debater esses e outros pontos com a comunidade, será organizada uma Assembleia Popular no dia 12/12 (quinta-feira) às 14 horas na Fundação Fé y Alegria. 
O Presidente do Conselho Comunitário de Felipe Camarão, Marcos Raimundo, afirmou que "A assembleia será um espaço importante para a comunidade propor novas pautas e fortalecer as lutas do bairro". 


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Pablo Santos? PRESENTE!



“Quando seu moço nasceu meu rebento
não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando não sei lhe explicar
 fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
que chegava lá
Olha aí, Olha aí
Olha aí ai o meu guri olha aí...”
Elza Soares

Não é do nada que se morre. O boy mora na periferia, é preto e pobre. Morreu! O boy usa aba reta, bermuda folgada e a camisa também. Foi assassinado! O boy tem 16 anos, estuda, quer se divertir! O boy é um jovem. Começou a ver as contradições que o rodeavam, começou a ir aos atos, queria passe livre como qualquer outro que não tem como andar pela cidade livremente. O boy tornou-se mais um na estatística que diariamente cresce.
A cada 10 minutos um jovem é morto no Brasil, em sua maioria, negros e pobres. Até quando vamos ver sonhos roubados? Sonhos pisoteados? Jovens torturados? Era Pablo ou era Douglas? Era Douglas ou era Pablo? A diferença no instrumento que os mataram, não os tiraram a única certeza: Assim como Douglas, Plablo sem saber o porquê, morreu.
Aaah, mas ele era da Zona Norte de Natal, era preto e era pobre, não bastava 16 anos de uma vida violada, violentada, Pablo-Douglas, Douglas-Pablo precisava morrer.  Para eles, quando a morte chega não faz diferença às tantas “faltas” que suas vidas tinham: o acesso à melhor escola para passar no ENEM, cultura gratuita, sim! Gratuita para não ter que escolher entre pagar a entrada da festa ou pagar a passagem. Pagar a passagem? Mas e ônibus? Aahh, fica na rua até o sol raiar a esperar o primeiro ônibus passar.
 Pablo morreu de morte matada. Quem o matou? Mais uma vez na vida para Pablo lhe faltou  resposta. O jovem da periferia morreu de tantas faltas, falta de política pública! Aos Pablos e Douglas do Brasil muitas respostas lhe faltaram. Assim, à eles muitas respostas são dívidas, dívidas que foram vidas. Quem vai pagar? O Estado que deve é o mesmo que criminaliza, é o mesmo que mata, mata de tanta falta.
Pablos e Douglas foram só mais um caso... “caso de polícia!” Olha lá o “Patrulha da cidade!”, vai lucrar com essa notícia. Não basta lucrar, é preciso ser sensacionalista! O jovem, “bandido”, “vagabundo, “vândalo” morreu, tinha 16 anos, mas podia ter 13... solução? Redução da maioridade penal? Não! Mais uma vez Estado? Tanta coisa pra reduzir, que tal começar com o número de jovens que estão morrendo no país? Que tal iniciar desmilitarizando a polícia? À Douglas e Pablos lhe restaram dívidas. À tantos outros jovens, uma única certeza: A juventude quer viver
Floriza Soares e Mara Farias

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Mulheres de Natal se unem pela Não violência contra a Mulher


 

25 de novembro, mais uma vez, foi marcado pela luta das feministas potiguares. O ato pelo fim da violência contra as mulheres aconteceu nesta tarde, com concentração em frente a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) na Ribeira, Natal - RN. Seguindo em marcha até o cruzamento da Av. Rio Branco, onde ocorreu com uma intervenção artística e política.
Essa ação foi organizada por mulheres organizadas no Levante Popular da Juventude, na Marcha Mundial de Mulheres (MMM), na Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB) no Movimento Mulheres em Luta (MML) e em Sindicatos além de algumas mulheres que não participam de nenhum movimento.
Segundo Débora Sá, militante do Levante Popular da Juventude, "a luta pelo fim da violência contra a mulher, só pode acontecer junto a luta contra o machismo. A violência é um reflexo da situação da mulher em nossa sociedade. Não é coincidência que a cada dois minutos uma mulher é violentada no Brasil. Não são casos isolados. O homem se sente no direito de violentar uma mulher, pois acredita que ela é uma posse dele, e quando sente ciúmes ou acredita que está 'perdendo a sua mulher', parte para agressão física." (Dados do Conselho Nacional de Justiça).
Além de conscientizar a população sobre o machismo e a opressão contra a mulher. O ato buscou dialogar com a Delegada Karen Cristina Lopes, responsável pela DEAM Zona Sul, na construção de reivindicações que possibilitem a efetivação da Lei Maria da Penha. Nesse sentido, 10 mulheres entraram na delegacia para receber o Memorando nº 233/2013 que trata da precária situação daquela DEAM que "enfrenta sérias dificuldades estruturais, como a falta de pessoal, de viaturas, de computadores, impressoras, etc.".
Para a Delegada é necessário investir em "conscientização e conhecimento para que a mulher denuncie, mas também na estrutura que falta depois que ela resolve fazer a denuncia". No Rio Grande do Norte existe, apenas, cinco DEAMs (Mossoró, Caicó, Parnamirim, Natal - Zona Norte e Natal - Zona Sul). Elas não são capazes de atender toda a demanda e estão sobrecarregada. A DEAM Zona Sul, por exemplo, também atende a Zona Leste e Oeste, mas conta apenas com 45 litros de gasolina por semana para cada uma de suas duas viaturas, impedindo o trabalho efetivo da delegacia.
Rachel Barbosa, da Marcha Mundial de Mulheres, lembra que o problema se estende para o que ocorre depois da DEAM, a Casa Abrigo. "Entre as vítimas fatais da violência contra a mulher 61% são negras e 48% do total tinham baixa escolaridade, além disso 87% eram nordestinas. Esses dados indicam que a violência contra a mulher tem cor e tem classe social. As mulheres violentadas muitas vezes se tornam reféns por não terem para onde ir, nem como sobreviver. Nesse sentido, a Lei Maria da Penha é clara quanto a necessidade de Casa Abrigo para essas mulheres e seus filhos. Mas o que temos para a grande Natal são apenas 10 vagas! Como podemos combater a violência se não vamos tirar a mulher dessa situação de terror?" (Dados de 2013 do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
O ato terminou com uma intervenção teatral do Levante Popular da Juventude, que demonstrou como a sociedade age quando uma mulher é violentada, a falta de apoio e recursos do Governo do RN (Rosalba - DEM) e que apenas unidas as mulheres podem acabar com essa realidade. Assista o vídeo:

Fotos e filmagem: Stephanie Bittencourt

NEGRA.



Nasceu. Nossa, bem escurinha, né? Isso é porque é pequena, vai clareando com o tempo. Olha esse cabelo, parece que é daqueles de pipoquinha. Mas num se preocupa não, é grosso e forte, vai aguentar alisamento. Olha, como tá grandinha. Só sabe brincar de paquita. Chora não, filha. Suas amigas não são melhores que você, só porque parecem mais com as paquitas. Nem são mais as princesas da Disney que você. Você também é uma princesa. Vai pra escola? Boa aula. O que foi? Te chamaram de macaca? Falaram que seu cabelo era ruim? Que o seu nariz é achatado? Que você era diferente? Chora não, filha. Ah, você quer alisar o cabelo? Mas só tem 9 anos. Olha, o cabelo dela partiu, quebrou, torou. Teremos que cortar bem curtinho. Chora não, filha. Olha só, já tá uma moça! Cresceu rápido, não é? É uma bela negra. Um pecado. Olha o jeito que ela dança, tá pedindo... “ai, se eu te pego neguinha...” Não pode usar essa roupa, você quer aparecer, é? Coloca essa cinta para emagrecer. Você nem parece as modelos na passarela. Olha essa revista, tem truques de maquiagem para afinar os traços. Mas não é que você seja feia, é uma beleza diferente. Exótica. “Fiu, fiu... que morena, viu?” Esse quadril deixa as roupas tão deselegantes.  Olha, o cabelo dela partiu, quebrou, torou. Não dá para você trabalhar aqui, não se encaixa nas necessidades da empresa. Não dá para você trabalhar aqui, estamos procurando outro perfil. Você pode até trabalhar aqui. Só alisa esse cabelo. Só esconde esse quadril. Mas ela não é negra, né? É Moreninha. Só não usa essas estampas. Essa meia calça afina a perna. Não pode parecer uma macumbeira. Só Jesus salva!  Olha, tá grávida. Mas só tem 17 anos. Eu sabia... não tem quem aquiete o facho dessa neguinha. Irresponsável. Inconsequente. O pai? Não importa. Abriu as pernas, que aguente. Agora que ela tava se aprumando na vida com emprego... estragou tudo. Depois reclama que não dá certo na vida. Mas dizem que o pai é mais clarinho... pelo menos a criança pode até nascer bonitinha. Eita, que barriga grande. Daqui a pouco vai nascer. Nasceu. Nossa, bem escurinha, né?

ATÉ QUANDO, NEGRAS...?

Flávia Maria

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

SOMOS O LADO NEGRO DA FORÇA





 “Toda historia da sociedade humana até hoje é a historia da luta de classes”, que nos dias de hoje, se traduz como a burguesia e proletariado, dois grandes grupos opostos que hoje carregam a particularidade de simplificar o antagonismo entre eles, mas não é exatamente, e é ao mesmo tempo exatamente o que queremos falar.
Reconhecemos a luta de classe como algo central para a nossa organização e compreensão social, é o nosso sul, mas hoje queremos enegrecer um pouco mais esse entendimento, queremos dizer porque é necessário nos afirmarmos como o lado negro da força e não só como proletariado, mas como proletariado que tem cor. 
A permanência da luta de classe nos sustenta em uma leitura histórica, mas não pode nos tirar da mente o povo negro como um fator que acirra essa disputa e a torna com cor para além da classe.
Somos 55% de nossa população, que se escondem nos lugares mais distantes de nossa cidade e nos empregos invisíveis, somos os corredores que não se vê, somos o canteiro de obras que atrapalha o trânsito e o percorrer de seus carros, na esperada da “magnífica copa”, somos as mães de seus filhos e nunca dos nossos, somos os cachos obrigados a escorrer e nunca permitir a beleza das voltas, somos os narizes que grandiosamente se espalham pelos nossos rostos e que por vezes são obrigados a se conter, somos os quadris deselegantes, somos o sinônimo do ruim do mal cheiro, somos 60,9 % das empregadas domesticas,somos aqueles e aquelas que o viver é uma historia de resistência.
Mas e a tal da igualdade, aquela que está no “livro das importância”? Essa daí foi colocada de goela abaixo, e sem dó, e o que parece é que não vingou. Porque antes de “sermos miscigenado”, somos uma cor, um cabelo, que chega antes de tudo, antes de nossa fala, de nosso olhar... Temos um lugar na geografia de nossas cidades, que não obedece a um critério de igualdade. 
E se essa é a igualdade de que tanto se fala, nós não queremos! Queremos não senhor! Queremos mesmo é a diferença, o plural, mas nunca o superior, o melhor o mais.
Nesse tempo de “igualdades”, de “miscigenação”, de “democracia racial”, vivemos o tempo de Michele Borges, que afirmou que as médicas cubanas tem cara de domesticas, vivemos a chance de um adolescente negro ser assassinado de 3,7 vezes maior em comparação com os brancos. 
Uma igualdade, onde a taxa de homicídios de negros é de 36,5 por 100 mil habitantes, no caso de brancos, a relação é de 15,5 por 100 mil habitantes, e nas universidades, historicamente construídas para a classe dominante, somos apenas 8,7 dos estudantes universitários.
Por isso de nada vale os grandes esforços e estudos para explicar a violência com suas diferentes escalas, se não olharmos para o nosso passado “obsclaro”, que nos impôs um desenvolvimento, um bom costume e uma cultura que nunca tiveram espaços para os nossos orixás, ou para as nossas ladainhas de capoeira. 
Nada adianta enormes estudos e discussões se não percebemos as cores de nossos presídios, de nossas universidades, de nossos deputados federais, juízes e médicos. É preciso escutar os sons dos tambores, ver os grafites de nossos muros, escutar as letras de nossos samba, rep e ladainhas, é preciso escutar vozes negras que nunca se calaram, precisamos escurecer nossas concepções.
Diferente dos não negros, temos que nos pensar enquanto corpo e não só enquanto classe. O mundo não está dado para nós, não temos a cor, o cabelo e o corpo que ele exige, e os nossos dias são um intenso martírio de nos transformar e esconder o que somos. Mentimos onde moramos para conseguir emprego, nos transformamos diariamente, não no branco, porque isso não conseguiríamos, mas no moreno, no marrom bom bom ou cor de caramelo.
Queremos mesmo é pluralizar a nossa historia e acabar com a sua palidez, enegrecer os corpos dos nossos livros de ciências e escurecer nosso heróis e nossas universidades. Não queremos privilégios, mas o direito da existência do plural, que historicamente nunca nos foi possível.
Jéssika Rufino