sábado, 27 de junho de 2015

Na escola: escrevo com giz diversidade, com o apagador tiram minha liberdade.

“Para mim o utópico não é o irrealizável; a utopia não 
é o idealismo, é a dialetização dos atos de denunciar 
e anunciar, o ato de denunciar a estrutura desumanizante e 
de anunciar a estrutura humanizante. Por esta razão a utopia 
é também um compromisso histórico”. 
Paulo Freire.

  
  A escola é o primeiro espaço que encontramos quando saímos de casa e do meio familiar, conhecendo novas pessoas e novas relações, um espaço que respira liberdade, ao menos deveria ser.
Independente de serem públicas ou particulares, ambas são construídas por um processo coletivo de educação, sendo assim lugares de pluralidade e diferenças que produzem coletivamente o conhecimento.

  É na escola que a diversidade se encontra, mesmo estando todas e todos com a mesma farda, uniformizados e em fileiras, é nesse momento que percebemos melhor as características de cada um: cabelo, cor, jeito de falar e agir, suas expressões de gênero e sexualidade.

  Percebemos as diferenças ao mesmo tempo em que as normas sociais tentam torna-los iguais, naturalizando os gêneros e as orientações sexuais, a estética e a beleza, apontando o caminho certo para os padrões sociais, estruturando assim a opressão.  

  Partindo desse espaço cheio de diferenças e opressões se faz necessário que as políticas educacionais que compõem os planos de educação, como o municipal que está em construção neste momento, esteja combinado com a realidade da escola e não com os interesses fundamentalistas do congresso.

  A escola é um espaço fundamental no processo de socialização e de construção de vínculos, que está sendo colocada em risco com o avanço do conservadorismo no congresso, impedindo que temas centrais como gênero e diversidade não sejam abordados no cotidiano escolar. Esse retrocesso é reflexo do atual sistema político que não representa os interesses do povo e nem pensa numa educação popular, que combata as opressões, contribuindo para a formação da juventude brasileira. Somente com uma reforma política através de uma constituinte: conseguiremos avançar na educação.

  Não é à toa que o congresso, o mais conservador desde a ditadura militar, esteja se esforçando para impedir gênero e diversidade na escola, pois querem continuar no comando, mantendo o patriarcado e a heteronormatividade como algo naturalizado nas salas de aulas.

  A falta de representatividade da negritude, de mulheres e LGBT’s no sistema político é um exemplo concreto dessa manutenção do poder, e a escola é uma das instituições centrais nesse processo.

  Por isso, precisamos continuar ocupando as escolas e organizando os grêmios, para que a estudantada se levante por uma outra educação. Somente com organização, formação e luta: construiremos uma escola feminista, antirracista, colorida, solidária e popular.

O que acontece nas salas e pátios das escolas?

  Não colocar gênero e diversidade nos planos de educação é contribuir com o processo de invisibilização dos LGBT’s na escola. A escola não pode ser incapaz de debater e educar para o combate aos preconceitos e violências, pelo contrário, precisa se reconhecer como um terreno fértil de reprodução das opressões, compreendendo a sociedade em que vivemos e apontando medidas que desconstruam esse cenário. Não estamos falando somente de currículos pedagógicos, mas da vida da juventude! Não podemos aceitar que a escola seja a guardiã da heteronormatividade e nem que o preconceito faça parte do seu cotidiano.


  É nesse espaço que descobrimos que “gay, veado, sapatão, bicha, machuda, traveco” são xingamentos e que ser diferente dos outros é algo ruim, muito ruim mesmo, pois isso nos é dito diariamente, pelas palavras e pelas porradas. É na escola que aprendemos que usar o banheiro no intervalo é uma tortura, que nosso nome social é algo indiscutível para a maioria dos professores, que existem esportes ditos de homens e de mulheres.

  O bullying torna-se terrorismo na vida da estudantada e ir para a escola é um desafio diário, é um sofrimento que silencia e afasta o estudante da educação. É comum ouvir falar da “evasão” de travestis e transexuais nas escolas, como se fosse algo natural ou inevitável, mas na verdade o que ocorre é a “expulsão” delas e deles pela falta de uma política de combate ao preconceito, inclusão e permanência dos LGBTs nas escolas.

  A evasão de um estudante que precisa deixar a escola para trabalhar e ajudar em casa não é a mesmo de um estudante que deixa a escola por não conseguir estar na sala de aula sofrendo LGBTfobia.

  É partindo dessa realidade que queremos uma educação discutindo gênero e diversidade na escola, por entender que qualquer jovem tem o direito de estudar e ser quem é. Precisamos de uma escola que não reproduza o preconceito e a violência, mas o respeito e a solidariedade. Queremos que o Brasil deixe de ser um dos países que mais mata LGBT’s no mundo. Queremos outra sociedade livre das opressões e dos valores do capital, por isso ousamos lutar por outra educação: construindo o poder popular rumo à revolução.


José Lima - Levante Popular da Juventude RN

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