quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Quando fevereiro chegar, machismo continua matando a gente


Nêgo!
Eu tou cansado desta merda
Da violência que desmede tudo
Da minha liberdade clandestina
De ta no meio dessa briga
(Eddie)
Iniciada há alguns dias, as publicidades do período mais festivo do ano, já começam a jogar na nossa cara realidades do nosso tão medieval século XXI.

Reprodução/Facebook
As esperadas campanhas publicitárias elaboradas especificamente para o carnaval começam a aparecer e a nos enojar. Uma delas foi a da historicamente sexista cerveja Skol com o mote “Esqueci o ‘Não’ em casa”. Até aí, nenhuma novidade. Uma cerveja fortalecendo a cultura do estupro. Por enquanto nada de novo e espetacular.

Mas hoje me deparo com a campanha do Ministério da Justiça que achou super válido e socialmente relevante lançar a iniciativa: “#BebeuPerdeu: Bebeu demais e esqueceu o que fez? Seus amigos vão te lembrar por muito tempo. Bebeu, perdeu. Curta a vida sem beber”.  A justificativa foi de que isso era uma tentativa de conscientizar jovens de até 24 anos sobre os malefícios do álcool e sobre a violência contra a mulher no carnaval.

                Reprodução/Twitter/JusticaGovbr
Ambas as campanhas, são minúsculos peixinhos no mar de propagandas publicitárias, que utilizam a justificativa de “conscientizar” a mulher sobre o consumo exacerbado de álcool, e a consequência óbvia desse consumo - SER ESTUPRADA NÉ GENTI! Nenhuma, em momento algum, o mínimo esforço de citar o agressor ou sequer reconhecer sua existência. Deixando nítido o conceito de abuso sexual, suas atrizes e os responsáveis por ele; nunca sendo a sociedade ou, imagine só, o homem.

Na propaganda da cerveja Skol vemos a nossa liberdade de escolha sumir, nossa voz ser mais uma vez silenciada. Querer curtir o carnaval é sinônimo de abuso sexual e esqueceram de nos avisar. Já o Ministério da Justiça consegue indicar uma linha de raciocínio brilhante. Indica o não consumo de álcool no carnaval e ainda explicita como motivo principal para não beber (e por conseqüência não sofrer abuso) o conhecimento das suas amigas sobre o fato. Sim amigas, porque pasmem, só existem mulheres nesta peça publicitária genial.

O abuso sexual presente no carnaval de todas as mulheres, aonde for, não tem agressor. Não tem sexo, idade, nem rosto. E não se assustem quando for inteiramente nossa culpa. “Curtam” o carnaval mas saibam que consumir álcool ou qualquer outra droga é declarar publicamente em cima de palanque meu desejo pessoal e coletivo pelo constante abuso físico e sexual, ou até aquele eventual estupro. Todos fixados, a partir de sempre, na sua lista de expectativas para os futuros carnavais.

Campanha do Ministério da Justiça:
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2015/02/ministerio-da-justica-tira-do-ar-publicidade-acusada-de-machista.html

Propaganda da Skol: 
http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/02/propaganda-de-carnaval-da-skol-e-alvo-de-criticas-feministas/


Liss Numa

Levante Popular da Juventude - RN

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